Internet não é fonte; é meio
Todo mundo tem direito à sua própria opinião;
mas não aos seus próprios fatos.
Daniel Patrick Moynihan
O jornalista sueco Jack Werner, especialista em checagem de informações, produziu um guia adotado pela ‘International Fact-Checking Network’, por ocasião do Dia Internacional do ‘Fact-Checking’ (2 de abril), para desvendar boatos nas mídias sociais.
No Brasil, o jornalista Sérgio Spagnuolo (do site de checagem ‘Aos Fatos’) também produziu um guia semelhante, que pode ajudar a não escorregar em boatos e mentiras replicadas na internet.
Ꙭ. Guia de Jack Werner
» 1 Reconlente heça — Lendas urbanas e boatos seguem um formato específico. Geralmente, têm poucos detalhes e possuem uma trama cujo fim é frequentemente dramático, triste, nojento, esquisito ou engraçado.
» 2 Procure pelo viés ideológico — Pessoas compartilham factoides para reforçar suas crenças pessoais. Por isso, as preferências ideológicas do narrador podem ser usadas a seu favor na hora de checar.
» 3 Procure por nomes, lugares, datas e imagens — A maior parte das lendas urbanas mais antigas distorciam detalhes de quando e onde ocorreram, bem como quem eram os envolvidos. Nas redes sociais, mesmo as histórias cujo foco são pessoas comuns, boatos geralmente vêm acompanhados de imagens, nomes e lugares.
» 4 Leia os comentários — Comentários são frequentemente destrutivos, mas eles podem ser valiosos como fonte de pesquisa. É comum que haja alguns sabichões (como eu mesmo) questionando a história antes mesmo de você tê-la escrutinado.
» 5 Procure pela fonte — Boatos dificilmente têm origem numa testemunha ocular ou mesmo no personagem central da história. Em vez disso, a fonte normalmente é descrita como "o amigo do primo do sobrinho do irmão do meu pai".
» 6 Procure por elementos centrais da história — Procurar por elementos-chave da história no Google e no Facebook pode ajudar a encontrar diferentes versões. Muitas versões diferentes da mesma história são indicadores de que você está diante de um boato.
» 7 Pergunte às pessoas envolvidas na história
» 8 Consulte especialistas — Se checadores não verificaram a história ainda, procure-os. Não esqueça, contudo, de estudiosos que pesquisam o assunto. Eles podem dizer se reconhecem o boato como tal ou se é uma nova lenda urbana. Se forem realmente bons, estarão à disposição para ajudá-lo, sobretudo porque eles mesmos querem saber o que há de novo no mundo da boataria.
» 9 Descreva com detalhes — O que quer que você escreva, assegure-se de seguir os passos mencionados aqui. Uma checagem que aborda de maneira rasa a história falsa não é tão convidativa quanto aquela que mostra o caminho da sua investigação, os elementos de outras histórias semelhante e o impacto que essas mentiras podem ter na sociedade. Compartilhe tudo! Isso fará com que a checagem fique mais interessante e mais persuasiva.
Ꙭ. Guia de Sérgio Spagnuolo
» 1 Busque fontes confiáveis — Por mais que você possa ter suspeitas sobre o posicionamento da dita imprensa tradicional, veículos conhecidos, como jornais, revistas e sites de grandes empresas são fontes legítimas de informações factuais.
» 2 Questione — Não é raro que veículos jornalísticos usem dados de instituições e estudos pouco confiáveis. As motivações podem ser diversas: as informações podem revelar fatos curiosos, podem confirmar teses que o veículo apoia, podem aumentar a audiência, podem ser resultado de erro.
» 3 Certifique-se de que no texto há referências — Vários veículos independentes têm surgido no Brasil nos últimos anos, o que é bom para a pluralidade de opiniões e de narrativas. É comum, entretanto, que muitos deles usem sua popularidade nas redes para advogar por causas específicas, baseando-se mais em opiniões incendiárias do que em fatos.
» 4 Olho na linguagem — Textos com linguagem carregada de adjetivos ou conotação pejorativa tendem a trazer informações falsas ou distorcidas.
» 5 Veja se o texto está assinado e se é possível contatar o veículo — O ato de assinar um texto é mais do que mera vaidade de um jornalista: ao lado do veículo para o qual trabalha, ele também está assumindo responsabilidade pelo conteúdo produzido.
» 6 Redes sociais são um começo, mas não a melhor fonte — O simples fato de uma pessoa articulada publicar alguma opinião ou comentário nas redes sociais não faz dela uma especialista. Por isso, é sempre bom lembrar: internet não é fonte; é meio.