Caminhar é sagrado e mágico
O se deslocar a pé é algo curativo (restaurador), mas também mágico (filosófico)
Caminhar é uma atividade física perfeita, fácil e leve, que proporciona saúde, beleza e boa forma. Quem não sabe?
Os sábios gregos ensinavam seus discípulos durante caminhadas (périplos); os romanos e alemães não dispensavam uma boa caminhada e os incas até construiram estradas calçadas para caminhantes. Para o povo tarahumara (pés corredores) do México, correr por caminhos íngremes e por longas distâncias é sagrado até hoje.
Inúmeros pensadores e poetas de todas as idades e lugares sempre valorizaram a caminhada. Charles Baudelaire e Walter Benjamin gostavam de “flanar”- andar a esmo pelas ruas, enquanto Winston Churchill recomendava: “Se estiver passando pelo inferno, continue caminhando”.
Geraldo Vandré nem imaginava que um dia poderíamos estar “Caminhando e cantando e seguindo a canção” com fones nos ouvidos ou “caminhando contra o vento / sem lenço e sem documento”, nos finais de tarde, como Caetano Veloso.
Titãs cantam certo: “É caminhando que se faz o caminho”; “caminhando, caminhando, conheço o meu lugar”, emenda Fernando Iglesias.
Talvez por essa vantagem do caminhante a recomendação de Jesus: “Eu Sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6), [portanto] “levanta-te, toma teu eito e anda” (João, 5:8), o que o poeta Wallace Stevens assim procurou resumir: “Eu sou o mundo no qual caminho”.
Para o escritor Anatole France “é bom colecionar coisas, mas é melhor caminhar. Porque caminhar também é uma forma de colecionar coisas: as coisas que a pessoa vê, as coisas que a pessoa pensa”.
Escreveu Rebecca Solnit que andar proporciona “conhecer o mundo através do corpo”, e resolver problemas andando (“solvitur ambulando”), como constatou Santo Agostinho.
Para o filósofo Friedrich Nietzsche, “os grandes pensamentos resultam da caminhada”, pois nessa condição “os anjos sussurram para aqueles que caminham”, traduzido na poética de Raymond Inmon. Jean-Jacques Rousseau, outro filósofo adepto dos passeios à pé, afirmava que só conseguia meditar quando caminhava: ”Minha mente só trabalha junto com minhas pernas”.
“Caminho do coração” ou “caminhar do guerreiro” é um conceito dos Novos Videntes para aqueles que buscam o Conhecimento. Ensinou Juan Matus (mestre de Carlos Castañeda):
“Em sua vida diária, o guerreiro escolha seguir o caminho com o coração! É a escolha constante do caminho do coração que torna o guerreiro diferente dos homens comuns. Ele sabe que um caminho tem coração quando é um com ele, quando sente muita paz e prazer percorrendo sua extensão.”
“Caminhar é a grande aventura do cotidiano” (Gary Snyder).
“Quando, pelo anos, não puderdes correr, anda rápido; quando não puderdes andar rápido, caminha; quando não puderdes caminhar, usa o bastão. Porém, nunca te detenhas (Madre Tereza de Calcutá).