A palavra “índio” está carregada de preconceito, especialmente no Brasil, onde a palavra tem o significado que a Autoridade Colonial lhe deu – um ser pouco diferente de um animal bravo e indomável.

Nem mesmo Couto de Magalhães conseguiu mudar esse significado, quando foi a Paris (ao final do sec. 19) para mostrar aos europeus a beleza da língua-geral do Brasil (abolida no sec. anterior) e dos moradores da selva que ele chamou de “selvagem” por isso, não por sua condição social, étnica, evolutiva, que ele soube muito bem informar em sua obra O Selvagem.

Só que essa obra ficou conhecida de poucos, mesmo no exterior e, hoje, as escolas celebram o Dia do Índio, como se ele não tivesse evoluído (apesar da genocidade), achando que ele ainda é uma "figura com duas pinturas no rosto e uma pena na cabeça, que mora em uma oca em forma de triângulo", como descreve o pós-doutor em Linguística, Daniel Munduruku.

É uma ficção a superar

O Dia do Índio, concordo com Munduruku, é uma data cujo conteúdo precisa mudar para mostrar a beleza e a diversidade culturais das etnias das matas e águas, e impedir a permanência desse sentido folclórico depreciativo e preconceituoso.

— A palavra 'indígena' diz muito mais a nosso respeito do que a palavra 'índio'. Indígena quer dizer originário, aquele que está ali antes dos outros. Talvez o 19 de abril devesse ser chamado de ‘Dia da Diversidade Indígena’. As pessoas acham que é só uma questão de ser politicamente correto. Mas, para quem lida com palavra, sabe a força que a palavra tem (Munduruku).

Foto de Marcelo Camargo/ Agencia Brasil